Leitura: O Dilema Escolar
- Equipe GCC Brasil

- 23 de jun de 2020
- 8 min de leitura
Atualizado: 18 de ago de 2021
Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma.
(Fernando pessoa)

Introdução
A leitura, alicerce do saber, firma nossas interpretações e torna possível a nossa compreensão do outro e do mundo. A escola como um todo tem como compromisso contribuir para a formação dos alunos como leitores críticos e participativos; capazes de dialogarem com sua realidade na condição de cidadãos conscientes de sua atuação na sociedade. Infelizmente os alunos não estão desenvolvendo a fluência na leitura, pois não compreendem com segurança e autonomia aquilo que leem.
É de extrema importância que a escola se reconheça como instituição responsável por estimular no aluno o interesse e o prazer pela leitura.
É nesse contexto que o gestor deve fomentar a prática em todas as disciplinas do currículo escolar, pois a formação de leitores não é responsabilidade somente do professor de língua portuguesa, e sim de todas as disciplinas, dado que todos os docentes fazem uso da leitura em suas aulas e necessitam torná-la significativa, a fim de que os alunos assimilem os conhecimentos.
Para se desenvolver a leitura significativa em todas as disciplinas tem que se saber como

acontece esse processo e dar atenção à significação, uma vez que não existe uma metodologia para tornar a leitura significativa, o que há é o conhecimento e a análise dos alunos para se optar por atividades que levem à contextualização do saber apresentado pelo material de leitura ofertado.
Considerando a premissa que não há aula sem leitura, é certo que todos os professores precisam buscar a interpretação e compreensão de textos verbais ou não-verbais; tendo em vista à construção e internalização de conhecimentos significativos em todas as áreas do saber e o desenvolvimento de um indivíduo capaz de depreender novos conhecimentos com compreensão para colocá-las em prática. A leitura está entremeada em todo o processo de ensino e no cotidiano dos alunos, assim é um compromisso que precisa ser assumido por todos os docentes. O professor deve agir com o intuito de auxiliar o aluno a compreender o que se está trabalhando, independente da área de atuação, a responsabilidade de incentivar o hábito de ler é de todos os professores, mas na maioria das escolas o trabalho com leitura fica somente ao cargo dos professores de língua portuguesa.

As estratégias para ensinar uma leitura proficiente são simples, seguramente, de conhecimento dos professores; o problema é que a maioria não as utiliza. As aulas deveriam focar a leitura na construção de significado, e não na pura decodificação. O leitor que deve dar sentido ao texto utilizando seus conhecimentos prévios, transbordando o significado das palavras, afinal a leitura é válida quando gera saberes, propõe e analisa atitudes e valores.

Diante da questão de como se processa a ação leitora e quais as ações pedagógicas dos professores para que ocorra o processo de ensinar e aprender que resulte numa leitura significativa, temos como objetivo diagnosticar a realidade de como a leitura é trabalhada em todas as disciplinas e as possibilidades de ação do professor para que os estudantes conquistem a leitura com significado para que alcancem, consequentemente, a escrita significativa porque sabemos que só temos um leitor se ele realmente for capaz de expressar o que leu com suas palavras, seja pela oralidade ou pela escrita.
Leitura
A leitura é um procedimento de percepção de uma informação transmitida por códigos, como a linguagem. É a ação de ler, é a forma pessoal de se compreender um conjunto de informações, um hábito extremamente importante para se desenvolver o raciocínio, o senso crítico e a capacidade de assimilação.
Ler integra a formação cultural de cada indivíduo, ao praticar a leitura significativa o leitor gera conhecimentos e aprimora os modos de perceber e sentir a vida; pois constrói sentidos.
Segundo Solé (2008) o ensino das estratégias de leitura ajuda o estudante a aplicar seu conhecimento prévio, a realizar inferências para interpretar o texto e a identificar e esclarecer o que não entende. Assim sendo o ensino das estratégias de leitura ajuda o aluno a utilizar seu conhecimento, a realizar inferências e a esclarecer o que não sabe.

Nas sociedades ocidentais a leitura, segundo Isabel Solé (2008), é vista como recurso para instrução formal e institucionalizada pelas instituições escolares. Nesse contexto essa habilidade é defendida no ciclo inicial do ensino, quando deveria ser priorizada em todo o ciclo de aprendizagem. A autora defende a leitura como aprendizagem (…) “Existe um hiato considerável entre o que se ensina na escola sobre a leitura e as necessidades que devem ser satisfeitas mediante ela, inclusive na própria escola: ler para aprender”.

É por meio do texto que se obtém posicionamentos, que se questiona sobre a potencialidade e opiniões de autores e assim formar os próprios conceitos e conclusões. Atualmente os textos estão por toda a parte, e entender o que se lê é imprescindível para poder integrar-se plenamente na vida social. É preciso que o aluno contextualize, que seja capaz de internalizar os conteúdos, e o caminho para que isso ocorra é a leitura significativa, pois uma informação que não possui sentido e significado não é compreendida e não contribuirá para a construção do conhecimento.
Quando o professor associar conteúdos significativos a uma prática também significativa,

desprendendo-se da função tradicional de mero transmissor de conteúdos estará modificando o ensino da leitura e da escrita; uma vez que estará contribuindo para a formação de pessoas críticas e participativas na sociedade. É necessário esclarecer que para a leitura ser significativa, as informações que o aluno encontra no texto precisam contribuir para ampliar seus conhecimentos, seus interesses e atingir seus objetivos.
A Leitura é uma metodologia que se inicia antes do contato com o texto e vai além dele. O leitor participa do processo com toda a sua experiência de vida e de linguagem, num contexto determinado, com intenções e expectativas específicas. A análise faz crer que um leitor diante de um mesmo texto, mas em condições diferentes, realiza diferentes leituras. Assim sendo, pode-se dizer que o aprendizado da leitura é uma tarefa permanente, que se enriquece com novas habilidades à medida que se vão dominando adequadamente os textos. Para isso, é significativo proporcionar condições de leitura participativa e criativa.
Ao ler para as crianças, o professor ‘ensina’ como se faz para ler...A leitura do professor é particularmente importante no início da escolaridade, quando as crianças ainda não leem, por si próprias, de forma eficaz.
Durante este período, o professor cria muitas e variadas situações nas quais lê diferentes tipos de texto. Quando se trata de um conto por exemplo, cria um clima propício para desfrutá-lo: propõe que as crianças se sentem em sua volta para que possam ver as imagens e o texto, caso queiram; lê com a intenção de provocar emoção, curiosidade, suspense ou diversão; evita as interrupções as interrupções que poderiam cortar o fio da história, e portanto não faz perguntas para verificar se as crianças estão entendendo, nem explica palavras supostamente difíceis; incentiva as crianças a seguirem o fio da narrativa e a apreciarem a beleza daqueles trechos cuja forma foi objeto de cuidado especial por parte do autor (LERNER, 2003, p.18).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) enfatizam que na escola para tornar os alunos bons leitores, para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto ou o compromisso com a leitura; a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado plenamente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los confiantes, condição para poderem se desafiar a “aprender fazendo”.
Essa é concepção de leitura que se almeja nas escolas e em qualquer outro lugar, que oportuniza o conhecimento de modo prazeroso e desafiador, que faz compreender, construir uma percepção crítica e ampla do mundo, das pessoas e da vida. O processo de leitura em si estabelece uma teia de conexões, interações significativas entre quem lê e quem escreveu, a que se acrescentam as ideias de uma ou de várias pessoas (autor, crítico, leitor) e o contexto em que todos se inserem. Além disso, resulta em conferência do conhecimento próprio, crítica e ou aceitação do que já foi dito.
Se o aluno não se interessar pela leitura, por várias razões, cabe ao professor criar situações que o envolvam e o atraiam ao texto, pois a função do professor não é a de ensinar a ler, mas a de oportunizar e criar situações.
Em sala de aula, o professor deve ser mediador incansável, preparado para o

convencimento que deve exercer junto aos alunos, em seu papel de formador de opinião favorável à leitura.
O aprendizado da leitura é uma tarefa permanente, que se enriquece com novas habilidades à medida que se vão dominando adequadamente os textos. Para isso, é significativo proporcionar condições de leitura participativa e criativa. Sendo assim, não basta teorizar sobre a importância e os benefícios da leitura, é fundamental a existência de profissionais capazes e competentes, que sintam eles próprios o prazer da leitura e possuam uma ampla visão literária, para assim obterem a sua própria concepção de leitura, repassando-a a futuros leitores.
Práticas de Leitura no currículo escolar

Atualmente, saber ler e escrever somente decodificando símbolos, de forma mecânica, não assegura a uma pessoa um diálogo com os diversos tipos de textos que veiculam na sociedade. É necessário ser capaz, não apenas decifrar letras e sons, como também compreender os significados e usos das palavras em circunstâncias distintas.
A escola, lugar principal para se potencializar a capacidade de linguagem, permanece limitando-se a um ensino mecânico, automatizado. O aluno constrói conhecimento mediante a atuação sistemática do professor e do envolvimento de ambos na pesquisa permanente da realidade exposta tanto em textos como na apreensão do que existe de material e imaterial no espaço geográfico próximo ou distante do aluno. A dificuldade em interpretar textos surge devido à falta de leitura, que por sua vez, é uma tarefa que envolve interdisciplinaridade. Assim, não significa que somente a área de Língua Portuguesa deva assumir tal responsabilidade; os textos existem graças às ideias e temas que circulam, e estes estão associados às diversas áreas que compreendem o currículo escolar.
A história da educação brasileira mostra que o ensino da leitura e da escrita tem sido delegado apenas a disciplina de Língua Portuguesa. Muitos educadores chegam mesmo a não corrigirem eventuais equívocos na escrita dos alunos, por entender ser essa uma tarefa exclusiva da disciplina de Português.

A principal função de cada disciplina na escola é ensinar seus conteúdos específicos, e o trabalho com a leitura de textos é essencial para isso. Todos os componentes curriculares devem desenvolver habilidades relacionadas à leitura, interpretação e produção de texto estimulando no aluno o prazer pela leitura e escrita, ampliando o conhecimento linguístico e cultural dos mesmos, contribuindo dessa forma, para formação de valores e para a construção da cidadania.
Sabe-se que os professores de línguas exercem um papel essencial para ajudar os alunos a se apropriarem da leitura e da composição de textos no campo de ação da própria língua e da literatura. Porém os responsáveis pelas demais disciplinas, por sua vez, podem e devem trabalhar com textos mais específicos, ou seja, é preciso planejar estratégias específicas para ensinar os alunos a lidar com as tarefas de leitura dentro de cada disciplina.

Teoricamente, o professor erra pelo artificialismo com que trata a leitura em sala de aula, nulificando concomitantemente os sentidos e a dimensão dialógica da prática de leitura, dado que, no planejamento didático, salienta a leitura mecânica e sem sentido, contrariando a experiência que a criança tem com a leitura no seu dia-a-dia. É fundamental que quem leciona, também aprenda, progressivamente, a identificar, a compreender e a executar os textos específicos de suas áreas.
Referências
ALVES, Rubem, Concertos de leitura, In Programa de Formação de Professores Alfabetizadores.Secretaria do Estado da Educação São Paulo, Módulo 2, São Paulo, 2003.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental, Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Vol.1, 2 e 3 ,Brasília:MEC/SEF, 1998
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa – 3.ed – Brasília, 2001.
LERNER.Délia,É possível ler na escola? In Programa de Formação de Professores Alfabetizadores.Secretaria do Estado da Educação São Paulo, Módulo 3, São Paulo, 2003.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
SOLIGO.Rosaura. Para ensinar a ler, In Programa de Formação de Professores Alfabetizadores.Secretaria do Estado da Educação São Paulo, Módulo 3, São Paulo, 2003.
Glaucia Calegari Labastie
Maria Isolina de Oliveira Souza
Glaucia Calegari Labastie, é pedagoga, professora licenciada em Letras e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional, responsável pelo Departamento de Língua Portuguesa da GCC Brasil.








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